Clarice
Lispector foi uma das mais destacadas escritoras da terceira fase do modernismo
brasileiro, que também era chamada de “Geração de 45”. Ela recebeu diversos
prêmios, dentre eles o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal e o
Prêmio Graça Aranha.
Haya
Pinkhasovna Lispector, seu nome de batismo, nasceu em Tchetchelnik, Ucrânia, em
10 de dezembro de 1920. Chegou ao Brasil ainda bebê (mais aproximadamente com
um ano e dois meses de idade). Os seus pais que se chamavam Pinkouss Lispector
e Mania Krimgold Lispector estabeleceram-se primeiramente em Maceió-AL e após
em Recife-PE.
Clarice
estudou várias línguas (português, francês, hebraico, inglês, iídiche) e teve
aulas de piano. Era boa aluna na escola e gostava de escrever poemas. Em 1930, após
a morte de sua mãe, Clarice termina o terceiro ano primário no Collegio
Hebreo-Idisch-Brasileiro. Mais tarde, sua família vai viver no Rio de Janeiro
e, em 1939, com 19 anos, ela ingressa na Escola de Direito da Universidade do
Brasil e começa a dedicar-se totalmente à sua grande paixão: a literatura. Fez
curso de antropologia e psicologia e, em 1940, publica seu primeiro conto,
intitulado “Triunfo”.
No
mesmo ano, após a morte de seu pai, Lispector começa a sua carreira de jornalista.
Já nos anos seguintes, ela trabalha como redatora e repórter na Agência
Nacional, no Correio da Manhã, no Diário da Noite, entre grupos editoriais.
Em
1943, ela casou-se com o Diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois
filhos, sendo um deles afilhado do escritor Érico Veríssimo. Quando o marido
passou a exercer a carreira diplomática, ela passou a acompanha-lo em suas
viagens ao exterior. O casal morou na Itália, Inglaterra, Estados Unidos e
Suíça. O relacionamento durou até 1959, quando resolveram se separar e com isso
Clarice retorna ao Rio com os seus filhos.
Algumas
de suas principais obras: Perto do Coração Selvagem, A Maçã no Escuro, A Paixão
Segundo G. H., A Cidade Sitiada, A Legião Estrangeira, A Hora da Estrela e Água
Viva.
Sendo
a obra mais conhecida e requisitada em vestibulares brasileiros, e uma das mais
importantes obras da Literatura Brasileira “A Hora da Estrela”, publicada no
ano de 1977, conta a história da emigrante nordestina Macabéa por meio do
narrador, Rodrigo S. M., alter ego da escritora. Antes de começar a contar a
história de Macabéa, o narrador abre o romance com uma dedicatória. Nela, o ele
faz uma profunda reflexão sobre o ato de escrever. Ele sabe que a palavra tem
papel fundamental não só na escrita, mas no mundo. A linguagem é tratada como
performática, isso quer dizer que ela encerra dentro de si o poder da ação:
"tudo no mundo começou com um sim". Com a consciência do poder da
palavra, o narrador começa uma série de questionamentos sobre o ato de escrever
e como contar a história de Macabéa.
Rodrigo
S. M. nos diz ao longo de todo o romance que existe um senhor tocando violino
na esquina. A música faz parte essencial da estória, como aquilo que não pode
ser dito, apenas sentido. O narrador mantém um papel essencial ao longo de todo
o romance, e não apenas na dedicatória. Macabéa é uma pessoa simples, com pouca
consciência de si mesma. Ele aparece como um mediador dos assuntos internos de
Macabéa. Em um movimento que vai do seu psicológico para o da personagem e
vice-e-versa, ele consegue criar uma teia complexa de sentimentos e pensamentos
em um personagem aparentemente simples.
Esse
movimento também serve para que o narrador desenvolva os seus próprios
conflitos internos e exponha questões sociais que geralmente não têm espaço nas
obras de Clarice Lispector. O narrador Rodrigo S. M. diz não pertencer a
nenhuma classe social, mas reconhece em Macabéa a precariedade das populações
mais pobres.
Macabéa
é nordestina como o narrador e como a autora, que nasceu na Ucrânia mas cresceu
em Recife-PE. O narrador sente por Macabéa a proximidade da origem, mas a vida
deles no Rio de Janeiro-RJ é muito diferente. A relação entre o narrador e a
personagem acaba sendo um tema central no livro.
O
livro é, acima de tudo, uma reflexão sobre o exercício da escrita e do papel do
escritor. Clarice Lispector sempre foi tida como uma escritora “difícil”. Nesta
obra, ela nos mostra como seu processo criativo é complexo, justificando um
pouco o conteúdo. A Hora da Estrela é a grande reflexão sobre a escrita e sobre
o papel do escritor. Sobre os limites do narrador e do próprio ato de narrar.
O drama “A Hora da
Estrela” ganhou diversos prêmios: Festival de Berlim (1986), Festival de
Brasília (1985) e Festival de Havana (1986). Dirigido por Suzana Amaral, a obra
de Clarice foi transformada em longa metragem no ano de 1985.Esta publicação faz parte do projeto Sonhando Entre Linhas, para conhecer o projeto clique aqui